Entre o Dó e o Sol
- Irina Marques
- 6 de mai.
- 1 min de leitura
No início,
era o eixo,
a linha contida,
a forma sem fôlego
a querer ser outra.
Era o som grave de dentro,
um Dó sem céu,
a geometria cansada
de sustentar silêncios.
Veio então o risco —
a linha oblíqua,
a dúvida que fende,
a cor que escapa pela fresta.
Entre o Dó e o Sol
jaz o intervalo onde o ser se dobra,
e depois se ergue.
Um círculo parte-se em quatro,
a alma sobe por colunas de cor
e corta os céus com linhas que ferem e libertam.
O fundo? É sonho.
O traço? É grito.
E o ser,
que era nota dissonante,
encontra a vibração do Sol.
Agora, o que emerge
já não pede permissão.
O gesto é urgente,
a mancha é confissão,
o desenho já não mede, revela.
O corpo aprende
a habitar o vazio —
não como ausência,
mas como espaço onde tudo pode nascer.
A tela é rito,
é chão flutuante,
é espelho fragmentado
onde colas os pedaços com cor.
E entre cada nota,
entre cada linha e pausa,
há um novo idioma a nascer:
o da artista que se torna,
no exacto momento em que ousa desaparecer.

Por Irina Marques
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