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Entre o Dó e o Sol

No início,

era o eixo,

a linha contida,

a forma sem fôlego

a querer ser outra.


Era o som grave de dentro,

um Dó sem céu,

a geometria cansada

de sustentar silêncios.


Veio então o risco —

a linha oblíqua,

a dúvida que fende,

a cor que escapa pela fresta.


Entre o Dó e o Sol

jaz o intervalo onde o ser se dobra,

e depois se ergue.


Um círculo parte-se em quatro,

a alma sobe por colunas de cor

e corta os céus com linhas que ferem e libertam.


O fundo? É sonho.

O traço? É grito.


E o ser,

que era nota dissonante,

encontra a vibração do Sol.


Agora, o que emerge

já não pede permissão.

O gesto é urgente,

a mancha é confissão,

o desenho já não mede, revela.


O corpo aprende

a habitar o vazio —

não como ausência,

mas como espaço onde tudo pode nascer.


A tela é rito,

é chão flutuante,

é espelho fragmentado

onde colas os pedaços com cor.


E entre cada nota,

entre cada linha e pausa,

há um novo idioma a nascer:


o da artista que se torna,

no exacto momento em que ousa desaparecer.


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Por Irina Marques

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