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Artista Plástico VII

Atualizado: 2 de dez. de 2024

Quando se trata deste tema, nem sempre é fácil o abordar, isto é, o relacionamento entre artista e a sua obra de arte. Já é um tema mais ou menos recorrente desde que escrevo, provavelmente desde que comecei a publicar os meus trabalhos, sempre senti necessidade de expressar o sentimento relativo a este assunto. Enquanto me encontro a elaborar uma obra eu apaixono-me secretamente pelo tema elaborado. Sei que isto escrito ou falado ou até mesmo expresso toca um pouco na loucura. Quem é que se apaixona por um objecto? É, eu mesma.


Dedico os meus dias a fio a tratar a tela, a pensar nas cores, a compor e estudar o seu aparecimento na superfície. Eu trato as minhas obras com tanto carinho e dedicação que me atrevo a dizer que seja qualquer coisa parecida com paixão. O problema destas pequenas paixonetas é que elas duram pouco tempo - o tempo de execução.


Há quem fale com gatos, cães, sozinho... eu falo com a tela. É verdade! E tenho longos discursos com ela, tudo aquilo que eu não falo na dita realidade e com pessoas, falo com as minhas obras de arte. Elas contêm os meus mais profundos segredos e histórias, cada traço e pigmento é criado devido a uma grande comunicação entre ambas.


Há muitos anos atrás escrevi um texto intitulado "Artista e sua obra de arte", foi um período muito criativo meu em que estava a ser tratada de uma depressão e os meus sentidos criativos extrapolavam por todo o lado. Lá, representava e falava na minha abordagem às minhas obras de arte.


Hoje em dia, e com a quantidade de obras criadas que tenho (mais de 100) vejo-as como períodos da minha história e vivência. As Inquietudes falam sobre violações e violência domestica e o papel da mulher como fonte de cobiça mas ao mesmo tempo, retrata a beleza feminina, com a temática mitológica que lhe carrega ainda mais significado para além dos mencionados. A minha Linha Ténue fala sobre processos meditativos, transições e outras temáticas em que as cores abordam questões.


As minhas abstrações têm variadíssimas fases... Essas são aquelas que prefiro ficar para mim e deixar o observador revelar. A primeira fase foi de 2009, a realização de duas telas com muito significado. Tive outra fase em 2022 pós Caminho de Santiago de Compostela. Agora uma nova fase em 2024 em que sinto que é a abstração o caminho certo.


Não que vá deixar de fazer outras temáticas e sempre que me apetecer irei criar, desbundar, experienciar, tentar novas abordagens - até tocar na realidade se necessário.


Estas minhas obras abstractas têm vendido muito bem e estou grata que alguém se identifique e aprecie o meu trabalho. Todas as ultimas obras já não estão disponíveis para venda. E a propósito de vendas é um sentimento muito estranho, é como se tivéssemos a vendar parte de nós, um bocadinho do meu ser vai para um outro alguém que o aprecia. Sinto-me gratificada e triste, é uma espécie de sentimento ambíguo - é aquela paixão antiga que vemos a ir embora, é aquele pedaço de história que será uma outra história para um outro alguém.

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